Qualidade da água em Cotia é preocupante

A qualidade das águas da represa de Itupararanga melhorou no ano passado, segundo o mais recente relatório da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), divulgado este mês a partir de constatações feitas em 2012. O Índice de Qualidade das Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público (IAP) do manancial recebeu nota 48, contra 37 em 2011, quando foi constatado o pior índice em 10 anos e o resultado ficou perto de configurar a qualidade da água do local como ruim. Nessas duas últimas ocasiões Itupararanga é classificada como regular. Apesar dessa melhora, autoridades ambientais ainda apontam que a situação na represa é preocupante e merece atenção.

A classificação da Cetesb tem como base uma tabela com cinco categorias: ótima, entre 100 e 79 IAP; boa, entre 79 e 51 IAP; regular, entre 51 e 36 IAP; ruim, entre 36 e 19; péssima, entre 19 e zero. A qualidade da água de Itupararanga vinha em tendência de queda desde 2007, quando o IAP foi de 65, com classificação boa. O melhor índice obtido foi em 2002, quando a Cetesb iniciou os trabalhos de monitoramento da qualidade do recurso hídrico da represa, ocasião que a pontuação atingiu 88 pontos, neste caso de ótima qualidade. O IAP é o produto da ponderação de dois resultados.

Um deles é o Índice de Qualidade de Águas (IQA), que analisa a temperatura, o pH, o oxigênio dissolvido, a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), os coliformes termotolerantes, nitrogênio, fósforo, resíduos e turbidez. O outro é o Índice de Substâncias Tóxicas e Organolépticas (Isto), usado para analisar a presença de ferro dissolvido, manganês, alumínio, cobre e zinco.

Cianobactérias, esgoto e agricultura

O gerente da Cetesb de Sorocaba, Sétimo Marangon, confirmou que, apesar do aumento do IAP de Itupararanga, ainda é preciso se preocupar com a represa, para evitar que os índices de qualidade voltem a piorar. Um dos principais motivos de o índice de Itupararanga ter subido, apontou, é porque os níveis de fósforo e nitrogênio encontrados na água da represa caíram no ano passado, sendo eles os responsáveis em favorecer a proliferação de cianobactérias na represa e a formação de algas nocivas.

As cianobactérias são responsáveis por produzir gosto e odor desagradáveis na água e desequilibrar os ecossistemas aquáticos, além de liberar toxinas que não podem ser retiradas pelos sistemas de tratamento de água tradicionais. Uma delas é a saxitoxina, gerada a partir de cianobactérias do gênero Cylindrospermopsis, potencialmente tóxicas, encontradas na represa, sobretudo em ponto próximo à barragem, na estrada que liga Ibiúna a Votorantim. Ali, 50% das amostras coletadas pela Cetesb apresentaram nível agudo de toxicidade. “Quando temos nutrientes sendo lançados na água, temos que tomar cuidado com isso. Nossas análises mostram que a falta de tratamento de esgoto em alguns locais e a agricultura ao entorno da represa que geram esses nutrientes”, alerta.



Apesar da melhora no IAP, o coordenador do curso de Gestão Ambiental da Universidade de Sorocaba (Uniso) e integrante do Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê, Nobel Penteado de Freitas, concorda e considera que não há o que se comemorar. “As causas da piora na qualidade ao longo dos anos são conhecidas, mas não estão sendo controladas, como o lançamento de esgoto nos afluentes e os resíduos da atividade agrícola. Não acredito em nenhuma mudança sistêmica ou estrutural, que possa ter levado a essa melhora (no IAP).”

Segundo ele, motivo que favoreceu a melhora na qualidade da água de Itupararanga seria a variação climática ocorrida no ano passado, que auxilia na diluição dos poluentes. “Percebi que tivemos mais chuvas no ano passado do que em 2011, principalmente no mês de julho.” Seria uma variação isolada, não demonstrando tendência para os próximos anos.

Falta de saneamento
 
A diretora da entidade SOS Itupararanga, Viviane de Oliveira, acrescentou que os municípios de Ibiúna, Vargem Grande Paulista e Cotia, pertencentes à Área de Proteção Ambiental (APA) de Itupararanga, são os que mais contribuem para a queda na qualidade da água, por conta da emissão de poluentes nos afluentes da represa. “A falta de saneamento na região, como é o caso de Ibiúna, é o principal fator responsável pela atual situação do reservatório. Apesar de possuir uma Estação de Tratamento de Esgoto, esta atende apenas à área urbana do município, estando toda a sua zona rural desprovida da infraestrutura de saneamento.” Vargem Grande Paulista e Cotia, ambas, apresentam índice de 0% de esgoto tratado e lançam seus efluentes nos afluentes do rio Sorocamirim, formador do reservatório.

Para Viviane, o caminho seria investir em infraestrutura para evitar que a represa de Itupararanga deixe de oferecer água de qualidade aos municípios que dela dependem, seja diretamente, como a cidade de Sorocaba e Votorantim, ou indiretamente, Alumínio, Cotia, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque e Vargem Grande Paulista, que são abastecidos pelos rios que desembocam na represa. “A implantação das obras necessárias e a agilização dos prazos são fundamentais para reverter este cenário atual em que se encontra a represa Itupararanga. A qualidade da água na cidade de Cotia e nessas outras cidades é preocupante”, alerta.

Fonte: Cruzeiro do Sul





Deixe seu comentário